terça-feira, 24 de setembro de 2013

LEITOR: CHAMADO A PROCLAMAR AS MARAVILHAS DE DEUS

O mês de setembro (mês da Bíblia? Da Palavra de Deus? Ou da Entrada da Bíblia?) realmente está me comovendo. Quando chego nas igrejas por aí e vejo uma bela coreografia para no dizer do “comentarista” – “Acolher a Palavra de Deus” chego a sentir um frio na espinha. Geralmente fazemos um show cinematográfico que enche os olhos, mas não instrui o espírito.
 
Quando entramos com a Palavra, nada de extraordinário acontece, agora quando ELA (A PALAVRA DE DEUS) é proclamada, é Deus quem nos fala, se servindo do ministério do leitor.

O Leitor desenvolve uma ação ritual, ele se levanta do seu lugar e se dirige a Mesa da Palavra lá proclama o texto escolhido para aquela celebração. Embora seja ampla a gama de textos Bíblicos que fundamentam este ministério, no Evangelho de Lucas (4,16-20) encontramos uma bela inspiração para este ministério:

 “E veio à cidade de Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado, e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: O Espírito  do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”. Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele”.


Vejam como é bela a passagem, esta cena descreve com muita proximidade aquilo que devemos realizar em nossas Liturgias. Cada gesto tem um sentido profundo e ajudam na compreensão do todo que celebramos.

Sobre o leitor, que pode ser instituído ou reconhecido, a Instrução Geral ao Missal Romano diz no numero 99: O leitor é instituído para proferir as leituras da sagrada Escritura, exceto o Evangelho. Pode igualmente propor as intenções para a oração universal, e, faltando o salmista, proferir o salmo entre as leituras.
 
E prossegue no numero 101, na falta de leitor instituído, sejam delegados outros leigos, realmente capazes de exercerem esta função e cuidadosamente preparados para proferir as leituras da Sagrada Escritura, para que os fiéis, ao ouvirem as leituras divinas, concebam no coração um suave e vivo afeto pela Sagrada Escritura.

Leitor instituído: Geralmente os candidatos ao diaconato (transitório ou permanente) embora seja permitido instituir outros leigos (do sexo masculino) que recebem este ministério em uma cerimônia presidida pelo bispo e o recebem de forma definitiva.

Leitor reconhecido: Aqueles outros leigos que proclamam a palavra na ausência do leitor instituído. Em alguns lugares são designado por um período de tempo e recebem uma formação como é comum nestas terras aos Ministros Extraordinários da Distribuição da Sagrada Comunhão.

Atenção: Quando estiver presente o leitor instituído, ele deve proclamar ao menos uma das partes da Liturgia da Palavra.


Vejam como é importante esse ministério. O serviço que o leitor presta a comunidade é além de despertar o interesse dos demais pelos textos sagrados emprestar sua própria voz a Deus para que fale com a comunidade reunida. A pessoa consciente de sua condição ministerial, toma isso para si de tal forma que se entrega a esse serviço como um verdadeiro Vocacionado à proclamação da Palavra.


Partindo da observação e da minha própria experiência, organizei um breve método para que os leitores possam se preparar para proclamar as leituras sagradas.

PREPARAÇÃO PARA PROCLAMAR OS TEXTOS SAGRADOS NAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS:

1º Passo: Encontrar os textos Bíblicos que irão ser lidos por você durantes a celebração. Realizar a leitura orante destes textos.

LECTIO DIVINA – LEITURA ORANTE DA PALAVRA DE DEUS

A leitura orante da Bíblia, ou LECTIO DIVINA, é um alimento necessário para a nossa vida espiritual. A partir desta oração, conscientes do plano de Deus e sua vontade, podemos produzir os frutos espirituais em nossa vida.

A LECTIO DIVINA é deixar-se envolver pelo plano amoroso e libertador de Deus. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia, em seu período de aridez espiritual, que quando os livros espirituais não lhe diziam mais nada, ela buscava no Evangelho o alimento da sua alma.

Como fazer a LECTIO DIVINA?
A LECTIO DIVINA tradicionalmente é uma oração individual, porém, podemos fazê-la em grupos. O importante é rezar com a Palavra de Deus lembrando o que dizem os bispos católicos no Concílio Vaticano II, relembrando a mais antiga tradição católica, que conhecer a Sagrada Escritura é conhecer o próprio Cristo. Os monges diziam que a LECTIO DIVINA é a escada espiritual dos monges, mas é também a de todo cristão!
Quais os passos da LECTIO DIVINA?
1) Oração inicial: Comece invocando o Espírito Santo, que nos faz conhecer e querer fazer a vontade de Deus. Reze, por exemplo, com a seguinte oração:
«Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. - Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e tudo será criado; e renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com as luzes do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo Senhor nosso. Amém.»
2) Leitura da Palavra de Deus: Leia, com calma e atenção, um pequeno trecho da Bíblia (aconselhamos que nas primeiras vezes utilize-se os textos dos Evangelhos, por serem mais familiares a todos). Se for preciso, leia o texto quantas vezes forem necessárias.
Procure identificar as coisas importantes deste trecho da Bíblia: o ambiente, os personagens, os diálogos, as imagens usadas, as ações. Você conhece algum outro trecho que seja parecido com este que leu? É importante que você identifique tudo isto com calma e atenção, como se estivesse vendo a cena. É um momento para conhecer e reconhecer a Boa Notícia que este trecho nos traz!
3) Meditar a Palavra de Deus: É o momento de descobrir os valores e as mensagens espirituais da Palavra de Deus: é hora de saborear a Palavra de Deus e não apenas estudá-la. Você, diante de Deus, deve confrontar este trecho com a sua vida. Feche os olhos, isto pode ajudar. É preciso concentrar-se!
4) Rezar a Palavra de Deus: Toda boa meditação desemboca naturalmente na oração. É o momento de responder a Deus após havê-lo escutado. Esta oração é um momento muito pessoal que diz respeito apenas à pessoa e Deus. É um diálogo pessoal! Não se preocupe em preparar palavras, fale o que vai no coração depois da meditação: se for louvor, louve; se for pedido de perdão, peça perdão; se for necessidade de maior clareza, peça a luz divina; se for cansaço e aridez, peça os dons da fé e esperança. Enfim, os momentos anteriores, se feitos com atenção e vontade, determinarão esta oração da qual nasce o compromisso de estar com Deus e fazer a sua vontade.
5) Contemplar a Palavra: Desta etapa a pessoa não é dona. É um momento que pertence a Deus e sua presença misteriosa, sim, mas sempre presença. É um momento no qual se permanece em silêncio diante de Deus. Se ele o conduzirá à contemplação, louvado seja Deus! Se ele lhe dará apenas a tranqüilidade de uns momentos de paz e silêncio, louvado seja Deus! Se para você será um momento de esforço para ficar na presença de Deus, louvado seja Deus!
6) Conservar a Palavra de Deus na vida: Leve a Palavra de Deus e o fruto desta oração para a sua vida. Produza os frutos da Palavra de Deus semeada no seu coração, frutos como: paz, sorriso, decisão, caridade, bondade, etc... Não se preocupe se alguma coisa não for bem, um dos frutos da Palavra de Deus é a noção do erro e a conversão pela sua misericórdia. O importante é que a semente da Palavra de Deus produza frutos, se 30, 60 ou 100 por um... o importante é que produza, e que o Povo de Deus possa ser alimentado pelos testemunhos de fé, esperança e amor na vivência de um cristianismo sincero.
Termine com a oração do Pai Nosso, consciente de querer viver a mensagem do Reino de Deus e fazer a sua vontade.

2º Passo: Leia a leitura em voz alta como se estivesse na Igreja, e caso tenha dificuldade com alguma palavra, não tenha medo de treinar (procure o significado dela em um dicionário). Por ultimo tenha atenção a pontuação, as frases interrogativas precisam ter este tom, da mesma forma as interrogativas e assim por diante.

3º Passo: Ao chegar a Igreja procure conferir no Lecionário a leitura que irá fazer, assim você irá familiarizar com a posição das palavras.


Lucas Francisco Neto

domingo, 22 de setembro de 2013

O Mês da Bíblia e a Liturgia da Palavra




Dizem que setembro é o mês da bíblia. Ocorre que em nossa liturgia nós não usamos a bíblia. O Concilio Vaticano II deu uma grande importância a Palavra de Deus, mas mesmo assim, nada mudou quanto aos Livros Litúrgicos.

Em nossas liturgias não usamos a Bíblia, mas sim trechos de seus livros que estão especialmente distribuídos para cada ocasião em coletâneas que chamamos de Lecionários. Os lecionários são livros funcionais, justamente por isso, não é preciso muito esforço ou conhecimento para saber qual texto é indicado para qual dia.


Usamos este livro (lecionário) o ano inteiro, mas quando chega setembro, surge um novo "Rito" (lastimável). Começa a tal de entrada da Bíblia.

Em alguns lugares entra-se com a bíblia acompanhada de uma dança ou outro gesto e depois ela é colocada em uma mesa decorada. Em outros lugares - pessoas que entendem que não usamos a bíblia em nossas celebrações - entram com o lecionário.

Sobre isso: O número 120 "d" da Instrução Geral ao Missal Romano ao falar sobre a procissão de entrada diz que o leitor, pode conduzir um pouco elevado o Evangeliário, não, porém, o lecionário. Vamos entender isso, o Evangeliário (um livro mais belo que contem os Evangelhos dos domingos, solenidades e algumas festas) é venerado de maneira especial, já o lecionário esse é apenas funcional e não recebe especial veneração.

Na missa presidida pelo bispo, ao final da proclamação
do Evangelho ele abençoa o povo com o Evangeliário.
Na foto o Papa Francisco em uma de suas missas.
O que deveríamos fazer então para destacar a Palavra de Deus no mês de Setembro – não que seja o único tempo de se destacar a Palavra de Deus – devemos fazer o que se deve fazer em todos os meses e em todas as celebrações litúrgicas, proclamar bem a Palavra, como acontecimento de salvação que é.
A mesma Instrução Geral Sobre o Missal Romano diz no número 55: A parte principal da Liturgia da Palavra é constituída pelas leituras da Sagrada Escritura e pelos cantos que ocorrem entre elas, sendo desenvolvida e concluída pela homilia, a profissão de fé e a oração universal ou dos fiéis. Nas leituras explanadas pela homilia Deus fala ao seu povo, revela o mistério da redenção e da salvação, e oferece alimento espiritual; e o próprio Cristo, por sua palavra, se acha presente no meio dos fiéis. Pelo silêncio e pelos cantos o povo se apropria dessa Palavra de Deus e a ela adere pela profissão de fé; alimentado por essa palavra, reza na oração universal pelas necessidades de toda a Igreja e pela salvação do mundo inteiro.

Pois bem, então tenhamos a máxima diligencia ao realizar a Liturgia da Palavra, ao escolher suas partes e ao escolher seus ministros. Para leitor é preciso ter vocação e aptidão. Uma criança pode ser graciosa e muito meiga e mesmo assim não estar pronta para proclamar a palavra e a participação da assembleia não pode ser prejudicada por seu mais puro desejo de ler em público. Um adulto mal preparado também não deve ser recebido como leitor, para ler na liturgia é preciso antes ter rezado aqueles textos e estar imbuído da mensagem que carregam.

Estes leitores devem estar de tal forma imbuídos do mistério que é anunciado através de sua voz que percebam que Deus se serve de seu ministério para falar a comunidade reunida e que por isso devem desempenhar esse oficio com toda piedade, isso inclusive se refere ao modo se vestir, falar, portar-se, até a maneira como se está de pé influencia. A Liturgia da Palavra deve toda ela ser proclamada da Mesa da Palavra (sobre a qual vale a pena fazer outra postagem) e só para exemplificar sua importância, se uma criança ou pessoa de baixa estatura for ler, não é a Mesa ou o Livro que deve ser abaixado, mas a pessoa que deve subir em alguma estrutura.

Não precisamos de penduricalhos (como coreografias e etc), precisamos celebrar bem, pois não existe catequese melhor que uma liturgia bem celebrada. Por ultimo deixemos uma dica quanto ao silêncio: A Liturgia da Palavra deve ser celebrada de tal modo que favoreça a meditação; por isso deve ser de todo evitada qualquer pressa que impeça o recolhimento. Integram-na também breves momentos de silêncio, de acordo com a assembleia reunida, pelos quais, sob a ação do Espírito Santo, se acolhe no coração a Palavra de Deus e se prepara a resposta pela oração. Convém que tais momentos de silêncio sejam observados, por exemplo, antes de se iniciar a própria Liturgia da Palavra, após a primeira e a segunda leitura, como também após o término da homilia (Instrução Geral ao Missal Romano – 56).




Lucas Francisco Neto